sexta-feira, novembro 13, 2015

canal 10

senta aqui e pede um café, aquele mesmo que a gente costumava pedir algumas luas atrás.
senta e despe-te de teus medos e receios.
senta e fica, pelo menos por 5 minutos, ouve o que eu tenho pra te dizer.
tenta te lembrar daquela nossa primeira conversa, sem todas as expectativas que se seguiram.
lembra daqueles filmes que te falei. eu sei que tu ainda não assistiu todos, mas tenta te lembrar da atenção que tu dava pras minhas palavras.

senta aqui e desliga esse teu mecanismo de defensa.
tenta ouvir as minhas palavras e não tuas traduções.
esquece tudo que aconteceu por um minuto e olha nos meus olhos.
não pensa em nada, só sente.

não vá embora, fica mais um pouco.
eu tenho tanto pra te contar.

espera.
me espera,
me espera,
me espera,
me (des)espera!

quinta-feira, novembro 15, 2012

A capital da dor.

Sua voz, seus olhos... suas mãos, seus lábios... Nossos silêncios, nossas palavras... Luz que vai... luz que volta. Um único sorriso entre nós. Na busca por conhecimento, eu assisti a noite criar o dia... enquanto nós parecíamos inalterados. O amado de todos, o amado de um só... sua boca silenciosamente prometeu estar contente. "Fora, fora" diz o ódio. "Mais perto, mais perto" diz o amor. Uma carícia nos conduz a nossa infância. Vejo aumentando a forma humana... como o diálogo de amantes. O coração tem só uma boca. Tudo por casualidade. Todas as palavras sem pensamento. Sentimentos à toa. Homens vagam na cidade. Um relance, uma palavra. Porque eu amo você. Tudo se move. Temos que avançar para viver. Aponte direto para frente, para aqueles que você ama. Eu fui direto para você, eternamente rumo à luz. Se você sorrir, me envolve tudo do melhor. Os raios do seu braço perfuram a névoa. 
(Godard)

segunda-feira, novembro 12, 2012

All of the stars are fading away.

Você foi embora e desapareceu do meu campo de visão e de alcance em poucos segundos, como se nada do que ocorreu tivesse importância. Eu não me importei, era um direito seu. De repente, aparece de novo cometendo injustiças e apontando dedo na cara de quem não deve. E então, eu lhe mandei embora. E você foi, sem pensar duas vezes. Não me importei novamente, só pensei que era hora de trancar a porta.
Com a porta trancada, às vezes olhava pelo olho mágico para ver quem passava pelo corredor. Vários seres desconhecidos, conhecidos, misturados, entrelaçados, despedaçados. E logo veio o silêncio total. Ninguém chegava perto, ninguém passava. Nenhuma alma viva no corredor.
Após algum tempo, resolvi destrancar a porta pra entrar um vento, pois estava calor. Vento entrava por todos os lados, cada vez mais frio, cada vez mais devastador. Vento vem, vento vai, e inicia-se um terremoto em meu estômago. Meu corpo treme, minha mente começa a girar, e de repente o motivo aparece: seus passos inconfundíveis; as placas tectônicas que causavam o terremoto. Enquanto se aproximava, tive de rapidamente esconder-me, mas esqueci a porta aberta. E você passou reto, nem mesmo pensou em entrar. Não sei nem se olhou, e isso talvez eu nunca saberei. Talvez seja melhor assim, mas ainda acho que nunca deveria ter passado no mesmo corredor novamente. Só queria entender o por quê.
Tanto tempo e tão pouca coisa para digerir. Foi tudo tão simples, curto e grosso como um pai que diz não ao seu filho. E depois de tanto tempo pra digerir, por que esta indigestão assim tão de repente, como se houvesse um mundo inteiro dentro de mim ao invés de apenas algumas palavras em minha mente?

quarta-feira, outubro 24, 2012

(Des)pedaços de nós

Ele estava a apenas dois metros longe de mim. Eu o olhava e pensava que não deveria estar olhando. Sentia seu cheiro e percebia que não devia estar sentindo. Então tentei me virar e dirigir-me até a porta da frente, mas ele me puxava. Não me tocava, não dizia uma palavra, talvez nem soubesse que estava lá. Mas ele me puxava e gritava meu nome. E eu tentava me soltar e falhava. Meu corpo suava, minha mente pesava uma tonelada e meus pés não saíam do lugar. De repente nossos olhares se encontraram e ele percebeu que eu chamava loucamente pelo seu nome e queria que me puxasse. Um passo, dois passos. Fechei meus olhos e minha mente não pesava mais nada. Meus pés flutuavam, meu corpo cambaleava, caía mas nunca chegava ao chão. Era como se possuísse asas e elas estivessem apenas esperando alguém que pudesse viajar comigo. Nós estávamos dançando no ar. Todos olhavam e dançavam como podiam. Meus lábios tocavam os seus de vez em quando, e eu pensava em todas aquelas coisas bonitas que havia lido mas nunca faziam sentido. E não dizia nada. Só encostava meu rosto no dele e dançava. Era como se seu corpo fizesse parte do meu corpo e eu pudesse sentir o sangue correndo pelas suas veias, as batidas do seu coração, o ritmo da sua respiração. Ele tinha uma vibração tão perfeita...
Foi quando, por um descuido, abri os olhos e caí de cara no chão. E o chão não teve pudor. De repente estava sozinha e seus olhos hazel não me enxergavam mais, nem mesmo pra rir. E não restava mais nada. Não haviam mais cartas, não haviam mais mensagens na geladeira pela manhã, não haviam mais danças, não haviam mais beijos. Minhas madrugadas estavam perdidas sem ninguém pra conversar ou discutir. E então pensava que talvez houvesse esperança, mas quem acredita nessa velha chata? Só restava um nariz quebrado e joelhos cambaleantes por causa da queda.
E eu queria lhe odiar. Tentava odiá-lo todo o tempo. Mas ele me puxava e gritava meu nome. Eu tentava me soltar e falhava. Então eu ia... Eu ia porque ele me chamava. E ele vinha porque eu o chamava. E nós íamos em frente, até que alguém quebrasse o nariz de novo.

"You'll never be a part of me, I know
Never free, we never can let it go"

terça-feira, outubro 23, 2012

No cars go where we know.

Um dia, numa pequena praia do sul, aconteceu algo que poderia ter mudado a vida de todos para sempre. Mas, na verdade, mudou só para eles mesmos, já que não eram pessoas importantes e o que acontecia na vida deles não faria diferença para ninguém. Ela morava lá, ele apenas passava as férias. Ela não tinha cabelos e ele não podia enxergar. Ela poderia usar peruca, mas nunca sentiria a sensação de ter cabelos como parte de seu corpo. Ele nunca iria enxergar novamente. Apesar disso, nos seus sonhos isto era possível e aguardavam ansiosamente o dia em que iria tornar-se realidade. Afinal, sonhos na maioria das vezes são irracionais.
Nesse dia, eles se encontraram e resolveram se conhecer, quase sem querer. De repente o sonho dela passou a ser o dele e vice-versa. Passavam os dias juntos, ouvindo música, dançando, conversando. Às vezes, quando ela lia para ele, sentiam-se como se fossem parte do livro e ficavam imaginando como seria se as coisas fossem diferentes. Diziam que talvez um dia pudessem escrever um livro juntos, para que outras pessoas pudessem sentir o que sentiam. 
As pessoas passaram a dizer coisas como "lá vem a carequinha com o cegueta". Antes de se conhecerem, talvez isto pudesse magoá-los, mas naquele momento estavam muito ocupados com eles mesmos para se importar com qualquer outra coisa.
O verão chegava ao fim e estava na hora de despedirem-se, mas não fizeram nenhum tipo de promessa porque sabiam que não poderiam cumprir. Ao invés disso, criaram um lugar onde pudessem se encontrar quando estivessem longe. Lá, ela possuía lindos e longos cabelos negros e ele perfeitos olhos castanhos que não poderiam enxergar melhor.
Não havia carros, internet ou televisão. As pessoas passavam o tempo sendo elas mesmas, dando importância às verdadeiras coisas e apenas vivendo. Eles podiam viver em paz, fazer sexo aonde quisessem e amar do jeito que achassem melhor. Teriam vários animais correndo pela casa e mais tarde várias crianças. 
Não parecia muito real, mas funcionava para eles. Sempre que sentiam falta um do outro, visitavam esse lugar e, pelo menos por algum tempo, eram felizes.
E ele sabia que nunca poderia fazer com que ela tivesse cabelos. E ela sabia que nunca poderia lhe dar novos olhos. Mas ela o fazia enxergar um mundo melhor do que costumava conhecer, e ele a enxergava melhor do que o resto do mundo. E para eles isso era o suficiente.

sábado, agosto 18, 2012

Let's dance

Texto justificado e mente bagunçada. Como se o texto alinhado fosse disfarçar toda a loucura que se passa dentro de mim e que todo mundo vê. Como se assim parecesse que eu sou organizada.
Organização é a última coisa que se passa dentro da minha cabeça. Por tantos meses eu esperava que ele chegasse, e fingia felicidade toda vez que o via, mesmo que estivesse junto de pessoas que não esperava. Agora percebo que quem esperava era quem menos esperava.
Olho pela fresta do meu óculos pois sempre acho que verei melhor. Todo dia eu vejo tantas pessoas passarem, atrasadas, felizes, chorando, correndo, sorrindo, e penso o quanto gostaria de conhecê-las. Essas pessoas passam pela minha casa, ou pela minha conversa. Pessoas que se julgam conhecedoras de mim e de si mesmas.
Que loucura, alguém diz. Que maravilha, outro diz sobre a mesma coisa. Opiniões opostas, todas corretas e com tom de verdade. Acredito em todos, penso, pois todos são mentirosos.
Entrei na cabeça dele sem permissão. Tomei seu café e fumei seus cigarros. Olhei pela fresta do óculos e ele continuava ali, com a mente aberta, doido para mostrar tudo que eu esqueci de ver da primeira vez. Entro de novo e de novo, várias vezes por hora. Mas sempre esqueço de perceber que ele também entra na minha cabeça, fuma meus cigarros e toma meu café.
You're the same kind of bad as me. Tirei a roupa e saí correndo. Quando a água tocou meus pés, pude senti-los flutuando enquanto meu corpo desenhava movimentos e minha mente desenhava prazeres nunca antes experimentados em uma dança. Nunca fui de dançar, muito menos esse tipo de música. Dançava em um mar de café, cigarros e muita música boa. De papel de parede, palavras e palavras que não me deixavam parar. Eu jurei que nunca mais sairia daquele club.
Let's dance, put on your red shoes and dance the blues.

sábado, agosto 11, 2012

It's not over yet.

Passaram-se 2 semanas, depois 3 meses, agora já se foi 1 ano. O tempo passa devagar, mas vai embora correndo. E toda vez que eu percebo, já nem sei mais que dia é. Nesse momento passam-se 5 anos em minha cabeça e eu não consigo achar ninguém no lugar correto nos próximos 5. Ontem acordei 2 anos atrás e o achei tão diferente. Eu podia ver dentro, fora, através. Hoje eu só posso ver através. Amanhã talvez nem isso. Agosto passado foi um borrão, setembro foi um rio. Setembro desse ano talvez seja uma borracha, ou um backup. Imprevisível. Julho de 2020 talvez seja um tocador de discos velhos. Amanhã foi outro dia. Hoje é março de 2007. Ontem foi janeiro de 2029. 20 anos se passaram. Tô com 10 filhos, 5 divórcios e nenhuma ligação perdida. Todas foram achadas, menos aquela, que ficou perdida no infinito. Talvez um dia chegue. Eu lembro dele, eu lembro. Será que ele lembra? Abril de 1958. Eu estive lá, ele chegou atrasado. Eu voltei décadas depois. Onde será que ele está? Abril de 2031 eu acho ele, tenho certeza. Ou talvez ano passado eu ache. Deixa pra outra hora, agora é cedo demais. Ontem foi tarde. Amanhã talvez ele nasça de novo. Ou não. Março ele sempre dá notícias, mas ele só chega em abril. Sempre em abril... Agosto é o mês que ele volta de viagem. Já que abril já passou e ele nem foi, quem sabe ele só volte agosto que vem? Tempo, tempo, tempo... Sem abril. Até quando eu não sei. Não sei nem mesmo em que ano estamos. Mas eu vou achar aquela chamada. Vou mergulhar no infinito e bagunçar tudo, até que ele me ache. Depois ele me espera. Depois ele me desespera. Agora não. Agora é hora de procurar dezembro. Dezembro ta me esperando, mas eu ainda tenho um tempinho para visitar outubro. Se o tempo não me enganar de novo... Talvez chegue atrasada, pois meu relógio parou, mas eu chego. Até mais, abril.

sábado, julho 28, 2012

segredos de uma apatia visceral

Costumávamos ser tão próximos, tão íntimos, tão opostos e dispostos e ao mesmo tempo tão iguais e preguiçosos que éramos um só.

Os opostos se atraem e logo se distraem. Os iguais se repulsam e logo se aproximam.

Somos opostos, somos iguais, somos estranhos.

Fomos opostos, fomos iguais, hoje somos apenas dois estranhos com o hábito de conversar todos os dias sobre coisas que se quer existem ou existiram.

Somos dois pontos interligados por uma linha circular que continua movendo-se por aí sem nosso consentimento, perdido em um espaço de tempo infinito.

Uma amizade dissimulada, uma tolerância fingida, uma necessidade recíproca e incompreendida de convivência entre si.

Um amor profilático e procrastinado que deseja manter distância desviando-se da reprodução do sofrimento absorto.

Mas que sofrimento?

Sofrimento foi somente o receio ávido por dor, que nos tornou hoje em dois ignorantes transtornados e receosos de tudo.

Somos singulares.

Somos plurais.

Somos diminutivos e somos aumentativos.

Somos dois passageiros lacônicos do trem desequilibrado e sem motorista que é a relação prolixa entre os seres humanos, o amor e o ódio.

Somos dois desconhecidos assíduos à procura incessante de deterioração do nosso amor como solução para tudo em nossas vidas.

Somos dois amantes remotos à procura incessante de deterioração de nossas vidas como solução para todo o nosso amor.